Pesquisa mostra que 70% dos alunos do ensino médio usam Inteligência Artificial em trabalhos escolares; especialistas e sindicatos alertam para a falta de orientação sobre uso seguro e criativo da tecnologia
SINPROFE – O uso de inteligência artificial generativa, como ChatGPT e Gemini, se tornou rotina na vida de muitos estudantes brasileiros. Embora essas ferramentas ofereçam facilidades para pesquisas e tarefas, especialistas e entidades sindicais alertam para consequências profundas e possivelmente irreversíveis na formação acadêmica, especialmente no desenvolvimento da escrita, da capacidade crítica e da autonomia intelectual.
Em reportagem a Agência Brasil, o escritor Sérgio Rodrigues, autor de Escrever é humano: como dar vida à sua escrita em tempo de robôs, a IA não substitui a subjetividade e a criatividade humanas. Ele alerta que a terceirização da escrita pode gerar um retrocesso civilizatório, afetando desde a produção de redações escolares até a capacidade de articular ideias, argumentar e expressar sentimentos.
Segundo a pesquisa TIC Educação 2024, 70% dos estudantes do ensino médio já utilizam IA generativa para trabalhos escolares. Entretanto, apenas 32% receberam orientação sobre uso seguro e crítico dessas tecnologias.
Uso de IA generativa por estudantes (TIC Educação 2024)
Nível de ensino | Uso de IA generativa (%) | Orientação recebida (%) | Principais ferramentas citadas |
Ensino Médio | 70% | 32% | ChatGPT, Gemini |
Ensino Fundamental II | 54% | 25% | ChatGPT, Gemini |
Ensino Fundamental I | 33% | 15% | ChatGPT |
O SINPROFE e outros sindicatos reforçam que a falta de formação docente agrava o problema. Entre 2021 e 2024, a proporção de professores que participou de cursos de atualização sobre tecnologias digitais caiu de 65% para 54%, chegando a 43% na rede pública municipal (cenário nacional), limitando a capacidade de orientar alunos de maneira crítica e pedagógica.
Formação continuada de professores em tecnologias digitais
Ano | Total de professores (%) | Rede municipal (%) |
2021 | 65% | 58% |
2024 | 54% | 43% |
Outro dado preocupante é que apenas 40% das escolas estabeleceram regras sobre o uso de IA, enquanto a restrição de celulares em sala de aula cresce. Para especialistas, proibições sem orientação pedagógica podem reduzir a capacidade de os estudantes desenvolverem autonomia, pensamento crítico e criatividade.
O levantamento também evidencia desigualdades digitais: embora 96% das escolas brasileiras tenham conexão à internet, a disponibilidade de computadores e dispositivos educacionais permanece desigual, especialmente em escolas rurais e municipais de menor porte, prejudicando o acesso equitativo às novas ferramentas de aprendizagem.
Cenários futuros possíveis com uso da IA nas escolas
Cenário | Impacto na escrita | Impacto no pensamento crítico | Papel do professor |
Uso irrestrito, sem orientação | Queda na capacidade de escrever de forma autêntica | Dependência de respostas prontas, raciocínio superficial | Mediador enfraquecido, risco de substituição simbólica |
Uso controlado, com formação docente | Escrita assistida, preservando criatividade | Estímulo à análise crítica e reflexão | Professor como guia e avaliador da aprendizagem |
Integração com políticas públicas de equidade digital | Ampliação de acesso, prática supervisionada de escrita | Desenvolvimento de pensamento crítico em larga escala | Reconhecimento do papel docente e fortalecimento da democracia escolar |
Diante desse cenário, a presidenta do SINPROFE, professora Maria Aparecida Pessoa, faz um alerta inicial sobre o uso da IA:
“Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de reconhecer que a aprendizagem humana é insubstituível. A IA pode ser uma ferramenta complementar, mas o professor precisa permanecer como mediador do conhecimento. É importante destacar que, nas escolas da rede municipal de Barreiras, o uso oficial de ferramentas de IA ainda é tímido, limitado a experiências pontuais ou projetos piloto. Isso nos dá a oportunidade de orientar o processo desde o início, estruturando protocolos claros e garantindo formação docente adequada.”
Em seguida, Ana Vieira discorreu sobre os desafios e a necessidade de políticas e práticas pedagógicas:
“Se não houver acompanhamento criterioso, mesmo o uso tímido pode se expandir de maneira desordenada, gerando dependência de respostas prontas e comprometendo o desenvolvimento da escrita, da autonomia e do pensamento crítico dos estudantes. Por isso, políticas públicas bem planejadas, formação continuada e incentivo à criatividade e à autoria são essenciais. A valorização do professor e o respeito à democracia escolar devem estar no centro desse debate.”
Estratégias sindicais e orientações para escolas
O SINPROFE propõe ações concretas para lidar com o avanço da IA nas escolas:
- Formação continuada de docentes sobre tecnologias emergentes e uso pedagógico da IA;
- Protocolos claros de uso seguro e ético de ferramentas de IA em atividades escolares;
- Incentivo à escrita, leitura e produção criativa, garantindo autoria e reflexão;
- Políticas de equidade digital, com acesso a dispositivos e internet de qualidade em todas as escolas;
- Fortalecimento da autonomia docente, permitindo que professores mediem e supervisionem o uso da IA;
- Monitoramento contínuo, com estudos de impacto da IA na aprendizagem, escrita e desenvolvimento crítico.
Síntese analítica
- Risco: dependência de respostas prontas, perda da capacidade de escrever e refletir, redução do espírito crítico;
- Oportunidade: uso da IA como ferramenta pedagógica, complementando a aprendizagem e ampliando recursos didáticos;
- Exigência: políticas públicas consistentes, formação docente e protocolos claros de uso para que a IA fortaleça, e não substitua, a função educativa;
- Princípio: a educação deve preservar a democracia escolar, valorizando o professor como mediador do conhecimento e guardião da aprendizagem.
A reportagem original foi publicada pela Agência Brasil, em matérias de Luiz Cláudio Ferreira (15/09/2025) e Elaine Patrícia Cruz (16/09/2025).
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